segunda-feira, 7 de outubro de 2013

O DENOMINADO "TEATRO CONTEMPORÂNEO" ESTÁ AFASTANDO O PÚBLICO?

(Por Tonico Lacerda Cruz)

Muito se questiona a onda de experimentalismos no chamado "teatro contemporâneo". Alguns insistem em chamar assim suas performances.

Todavia, a ausência de dramaturgia em muitas destas apresentações abre espaço para alguns questionamentos.

O principal deles é se a falta de dramaturgia autoriza uma encenação ser denominada de "teatro". Não seria melhor "performance"?

Outra crítica é o fato de alguns diretores e atores do "contemporâneo" não terem tido formação de conhecimento e pesquisa dos autores e pesquisadores clássicos, bem como de métodos de fazer teatral consagrados, para depois proporem algo que se quer ser "inovador", que se quer chamar de "contemporâneo".

Outra grande interrogação fica por conta do público. Este dito "teatro contemporâneo" chega ao público em geral? Ou é feito apenas para pessoas do meio teatral?

Fica a reflexão...

Para instigar ainda mais o pensamento crítico, transcrevemos abaixo matéria publicada na FOLHA DE SÃO PAULO de hoje.

TEATRO FRACASSOU COM PÚBLICO JOVEM, DIZ AUTOR ESCOCÊS; BRASILEIROS DISCUTEM CRISE

(Por Gustavo Fioratti - de São Paulo)

Expoente de geração que combateu tradições do teatro europeu, o dramaturgo escocês Anthony Neilson teme que o experimentalismo tenha sido um tiro no pé, afastando público, especialmente entre os jovens. Ele se refere, principalmente, à falta de repercussão de obras.

O autor diagnosticou a crise e falou sobre o "envelhecimento" do teatro num bate-papo na semana passada em São Paulo e, também, em palestra na última terça no teatro do Sesi. Na opinião de Neilson, as artes dramáticas, ao lado de outros campos de expressão, não conseguiram usar a tecnologia para gerar debates internacionais.

Hoje, ele compara, é fácil ter acesso a músicas pela internet, filmes são lançados em cópias, a literatura também criou plataformas digitais. Mas o teatro, artesanal por natureza, patina isolado em nichos de especialistas e pequenas plateias.

"É possível transmitir peças por internet, mas quem quer ver um espetáculo pelo computador? Não estamos atingindo os jovens, e isso me preocupa", disse a uma plateia repleta de dramaturgos.

"É importante ter o background da música, ser entretenimento. Não estamos nos comunicando da forma correta. Estamos fazendo peças de três horas, e isso nem sempre é preciso. Quem vê duas peças chatas de três horas não volta. A sensação é de ter sido molestado", brincou.

Menos preocupado com o número de cabeças em suas plateias do que com um possível esvaziamento do experimentalismo, Antunes Filho tem opinião similar à de Neilson. "O teatro estava atrasado, e hoje está ainda mais."

Para o diretor, a incansável busca pelo estilhaçamento do drama - o afastamento do objetivo puro e simples de contar uma história - caiu em um cenário vazio. "Essa calamidade pós-dramática insuportável, chata, aborrecida, provou-se que não dá mais", diz. Antunes brada contra à proliferação de cartilhas que incentivaram excessos do teatro autorreferencial.

Apenas para rir um pouco:



CONTRA A REALEZA

Neilson pertence a uma geração que tentou aproximação com jovens por meio da renovação de linguagem e de proposições temáticas --e admite não ter tido tanto êxito.

Fez parte do chamado In-Yer-Face, grupo que abrigou, entre outros nomes, Mark Ravenhill, autor do niilista "Shopping and Fucking", com seus personagens jovens sem perspectiva. E também Sarah Kane, dramaturga que se matou em 1999, aos 28 anos, e tornou-se mito por sua peça "4.48 Psychosis", sobre depressão.

Negar o passado e as tradições do teatro inglês ("ainda associado às instituições reais do país", diz o autor) também estava na lista de deveres. Só que, dez anos depois, a crise permanece.

"Interatividade hoje é a palavra de ordem, mas, no teatro, ela assusta", conclui.

Pesquisa de julho do Datafolha mostra que, em São Paulo, quem mais vai ao teatro tem entre 16 e 40 anos. Mas o número de quem não frequenta é alto em todas as faixas etárias (veja acima).

João Fonseca, diretor de peças como "Rock in Rio" e "Cazuza", acha que o teatro tem "dificuldade para entrar na casa das pessoas, como faz a música". Também é uma arte que não se associou a um tipo específico de vida social. "Jovens procuram programas onde podem paquerar."

Leonardo Moreira (autor e diretor da nova geração, vencedor de dois prêmios Shell) diz que, na aproximação, não pode haver "olhar paternalista". "Não dá para nivelar por baixo. E não podemos menosprezar a capacidade de entendimento dos jovens."

Fonte: FOLHA UOL

2 comentários:

  1. Estamos vivenciando um processo de mudanças em todos os meios artísticos. Assim como os espectadores de canais abertos têm migrado pra TV a cabo (e isso ocorre também pela influência da ascensão do audiovisual na internet), o gosto popular pela música tem mudado para outros gêneros (como por exemplo o sertanejo), o espectador de teatro também tem adaptado-se aos poucos às mudanças da dramaturgia para o que se tem chamado de pós-dramático.
    Mas, há um fato a ser pensado: como atrair quem nunca veio ao teatro? Será que imitando os batidos melodramas que já temos em casa, na TV e internet, vai fazer o espectador sair de suas residências pra prestigiar um espetáculo?
    Não creio que possa haver um distanciamento de algo que nunca esteve próximo. E muito disso se tem por conta da cultura que nós criamos ao longo do último século. E como sabemos, não foi uma cultura nada teatral.
    Então, esse teatro contemporâneo ou performático que tem surgido é, nada mais, nada menos, o artista com sua antena (que só os artistas têm) ligada ao mundo atual, moldando sua arte pro mundo atual, pra que ela não seja arte por arte, pra que ela não seja apenas mais uma novela das 9h, pra que ela não seja movida maioritariamente por vaidade, pra que ela não seja apenas a busca pelo aplauso, e sim um instrumento de mudança de realidade, que é o papel que a arte, no meu modo de vista, deve ter.

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    1. Obrigado pelo seu comentário, Lucas Madí. Acreditamos na pluralidade de idéias, saberes, fazeres e criações. Não negamos nem somos contra o teatro contemporâneo. Apenas não concordamos com a rotulação deste título para qualquer trabalho que, sem construção dramatúrgica, acaba se colocando este rótulo. E, viva a controvérsia de ações, situações e construções! E, viva o teatro!

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