domingo, 17 de junho de 2012

CAPTAÇÃO DE RECURSOS NA ÁREA CULTURAL DEVE TER COMO PRIORIDADES A ÉTICA E A VISÃO DO TODO

“Captadores de recursos da área cultural deveriam se organizar e produzir um código de ética da prática profissional que regulamentasse as suas atividades, assim como os da área social fizeram por meio da ABCR (Associacao Brasileira de Captadores de Recursos).”

A afirmação é de Carla da Nóbrega, coordenadora de Mobilização de Recursos do escritório regional para a América Latina e Caribe da ONG Habitat for Humanity International, fundadora e membro do Conselho Consultivo da ABCR. Carla já atuou em diversas organizações que trabalham como projetos sociais e culturais e acredita que a promoção e a difusão de boas práticas éticas no setor cultural é urgente e fundamental.

Ela diz que, em primeiro lugar, o captador de recursos deve se orientar por metas financeiras claras, desafiadoras e factíveis. Além disso, precisa conseguir realizar um bom trabalho em equipe com os implementadores do projeto e desenvolver habilidades técnicas e pessoais de planejamento, relacionamento, organização, orçamento, comunicação e a captação de recursos em si.

“A principal dificuldade que vejo é a cobrança permanente do setor por resultados que deveriam ser compartilhados entre todos na organização. O peso da responsabilidade de captar recursos muitas vezes recai somente nos ombros do captador, o que não é uma boa prática para ninguém. Por essa razão, o captador deve desde cedo se acostumar a trabalhar sob pressão.”

Segundo Lucimara Letelier, coordenadora do grupo de cultura da ABCR e Diretora Assistente de Artes do British Council Brasil, uma pessoa que pretende ser captadora precisa conhecer as técnicas e profissionais que já estão no mercado. “Acho importante que quem quer se tornar captador hoje esteja conectado à evolução da profissão que está acontecendo neste momento, transicionando entre o perfil que tem sido até o momento e o que está em formação”, afirma.

Para ela, o modelo de atuação dos captadores no setor cultural no Brasil foi muito pautado pelas regras da lei Rouanet, que limita a atuação por projeto, foca em uma única fonte de recurso (empresas) e estipula um teto de remuneração associada ao sucesso da captação (“em risco”). “Este modelo acabou estimulando um perfil específico de captadores e limitando a percepção do mercado sobre o potencial de atuação deste profissional, em impactar o desenvolvimento institucional e a sustentabilidade no longo prazo das organizações culturais”, explica.

O perfil de captação de recursos em diversas partes do mundo, conta Lucimara, está mais relacionado a estruturas internas das organizações culturais e sociais do que ao perfil terceizado e comissionado que conhecemos aqui no Brasil. Dentro desse modelo, os captadores , muitas vezes denominados “profissionais de desenvolvimento”, são parte da estratégia de longo prazo das organizações e trabalham a captação conectada às ações em todas as áreas (Marketing, Comunicação, Finanças, Programação e curadoria, etc) da instituição.

“No Brasil, temos visto uma mudança significativa, apesar de lenta e gradual. Aos poucos as organizações culturais passam a adotar um modelo mais interno, com estratégias de captação de recursos alinhadas ao posicionamento institucional e de marca de cada instituição. Trata-se de uma mudança de cultura organizacional e de paradigmas de mercado, portanto levaremos um tempo para estabilizar esta nova realidade”, afirma.

Para Frederico Barletta, coordenador de Sustentabilidade do Museu da Pessoa, para ser um captador de recursos tem que conhecer bem os programas e projetos da instituição, estar envolvido ou comprometido com a sua sustentabilidade a médio e longo prazo e ser capaz de traduzir para o mercado aquilo que a instituição faz e quer alcançar. “Um captador de recursos não é um vendedor simplesmente, se não estiver envolvido com a causa não consegue mobilizar outras pessoas ou construir relações. As dificuldades são enormes: temos um cultura avessa ao dinheiro, ao mecenato, etc.”

Ele é mais um que acredita que não podemos ter uma perspectiva que privilegia somente os mecanismos de incentivo. “É preciso ir além, provocar o mercado e as pessoas para que novas formas de colaboração possam ser criadas – as redes virtuais, os sites de financiamento coletivo são exemplos disso”, afirma.

Independentes - E quem não está ligado a uma organização? É natural que existam captadores para dar suporte a artistas e produtores, por exemplo. Segundo Lucimara, esse perfil de captador será sempre necessário para realizar uma atividade quando artistas e curadores não estiverem aptos a desempenhar sozinhos. “O modelo ideal combina profissionais dentro das estruturas organizacionais fixas das organizações, com profissionais ou empresas com equipes que atuem em áreas específicas, como captação para projetos internacionais, projetos de itinerância, projetos que envolvam uma rede ampla de parceiros ou outros temas cuja exerpertise não se encontra dentro da organização”, diz ela.

Lucimara acredita que as soluções não são simples, porque o atual modelo está bastante enraizado, mas há um novo caminho que nasce dos aprendizados e experiência da caminhada até aqui. “Será uma mudança a longo prazo, que promete uma atuação do captador muito mais integral e significativa para o momento do mercado cultural brasileiro, que na próxima década será ainda mais globalizado, institucional e economicamente relevante”, conclui.

Para Carla, apesar de todas as dificuldades, o que compensa neste trabalho é a capacidade que o captador tem de viabilizar ótimos projetos, que sem recursos financeiros não existiriam. Outra compensação é a demanda do mercado por bons captadores de recursos. “O bom captador nunca ficará sem emprego.”

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